Conselhos de amiga
A pandemia e a saúde mental

A pandemia de Covid-19 virou de “pernas para o ar” a vida de todos.
Esta não era uma ocorrência esperada, não houve preparação e por isso fez-nos confrontar com algo que é muito desorganizador para a maioria das pessoas: a perceção de falta de controlo sobre aquilo que nos acontece.
Também as medidas para evitar o contágio levaram-nos a longos períodos de confinamento, ao isolamento social, à necessidade de utilização das novas tecnologias a full-time. Impediram-nos até de nos despedir daqueles que partiram...
As saídas necessárias são agora rodeadas de medos, cuidados extremos e preocupações do tipo “e se...”.
A quebra abrupta e mantida de rotinas, a ausência de horários, a perceção de dias pouco produtivos e todos iguais aumentaram a perceção de ineficiência e a letargia.
A maior disponibilidade de tempo, tão desejada anteriormente, viu-se associada ao aumento de espaço mental para pensar, para colocar cenários assustadores, para projetar o futuro como incerto e ameaçador.
Como sabemos, a forma como nos sentimentos não está relacionada com aquilo que nos acontece, mas sim com a forma como interpretamos aquilo que nos acontece.
O desconhecimento deste vírus, das suas consequências a longo prazo, a impossibilidade de ser visto a olho nu e a dúvida constante que está associada à possibilidade de contágio são promotores de interpretações catastróficas que levam ao aumento da sintomatologia ansiógena, à desesperança, alterações do humor e, consequentemente, a alterações do comportamento.
E não é só! A esta equação já complexa devemos acrescentar os receios face à situação laboral, as preocupações de carácter financeiro, as exigências de conciliar teletrabalho e crianças em casa, a preocupação acerca do impacto da situação nos filhos, a menor possibilidade de prática de exercício físico....
Não podemos esconder que se criaram as condições ideais para a redução da saúde mental, constituindo-se a pandemia de Covid-19 como um stressor, ou seja, um acontecimento que provocou alterações no ambiente gerando tensão o que desencadeia respostas mal-adaptativas.
Os estudos mostram isso mesmo:
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o acréscimo de sintomas compatíveis com perturbações do humor e de ansiedade, irritabilidade acentuada, perceção de medo prolongado, de raiva, e impacto na qualidade do sono (Brooks SK, Webster RK, Smith LE, Woodland L, Wessely S, Greenberg N, et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet. 2020;395:912-20)
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aumento de risco para o abuso de álcool e drogas (Wu P, Liu X, Fang Y, Fan B, Fuller CJ, Guan Z, et al. Alcohol abuse/dependence symptoms among hospital employees exposed to a SARS outbreak. Alcohol Alcohol. 2008;43:706-12)
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acréscimo do número de divórcios associado também ao aumento em 23% do tempo de utilização dos telemóveis com impacto na comunicação entre as famílias (estudo da Relish)
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Quando o risco de contágio for menor, quando o efeito da imunização pelas vacinas se fizer sentir, quando podermos retomar a normalidade das nossas vidas, os impactos psicológicos manter-se-ão, perdurarão no tempo e terão consequências a longo prazo.
A procura de ajuda atempada é por isso fundamental.
Não precisa estar no fundo do poço para pedir que lhe lancem a corda!!!
Cátia Morais
As crianças e a pandemia.

"Pandemia e Covid-19: as palavras que marcaram a nossa vida no último ano e que nos fizeram adaptar a uma nova realidade. Uma realidade que mudou hábitos e rotinas, e que teve um impacto maioritariamente negativo na nossa saúde mental.
Assim como nós adultos, também as crianças tiveram que se adaptar a este novo mundo. Mas de que forma estas mudanças afetaram os mais pequenos?
Subitamente, as nossas crianças viram-se afastadas da escola, local de convívio e socialização, afastadas do contacto com a família alargada, nomeadamente os avós, peças imprescindíveis na educação dos netos, e viram ainda as suas brincadeiras e atividades ao ar livre limitadas.
Todas estas mudanças estão a ter um impacto muito negativo no comportamento dos mais pequenos, sendo a distração, a irritabilidade e a ansiedade os problemas mais relatados pelos pais, problemas esses que têm ainda como consequência adicional dificuldade em dormir e pesadelos durante o sono.
Para contornar a falta de sono dos filhos nesta fase, muitos pais estão a recorrer ao uso indiscriminado de melatonina como solução. Mas o que é afinal a melatonina? A melatonina é a hormona do sono e é responsável pela sensação de sonolência e relaxamento. É produzida e libertada naturalmente por uma glândula situada no cérebro e é a forma natural do corpo se preparar para o sono. E por ser natural, existe a ideia generalizada de que é segura. E é, mas apenas quando prescrita por um médico em situações específicas de distúrbios do sono.
Não deve ser usada em crianças saudáveis, pois não existem estudos dos efeitos a longo prazo, sabendo-se apenas que pode afetar a capacidade natural do corpo em produzi-la.
Existem assim outras formas de contornar este problema e ajudar as crianças a dormir melhor, sem ter que recorrer ao uso desta hormona, nomeadamente:
- manter uma rotina diária estruturada, com horários de estudo, brincadeira e refeições;
- fazer atividades diferentes com os filhos (cozinhar, dançar, fazer jardinagem…);
- evitar sestas tardias;
- diminuir a luz ambiente e “proibir” o uso de ecrãs uma hora antes de dormir;
- ler uma história ou cantar uma canção de embalar na hora de deitar.
Desde o início da pandemia que o impacto que esta está a ter na saúde mental dos mais pequenos está a gerar uma grande preocupação, mas felizmente as crianças têm uma grande capacidade de adaptação, logo, otimizando o mais possível o seu dia-a-dia, conseguimos descomplicar e garantir que os mais pequenos mantêm o seu equilíbrio comportamental e emocional neste “novo normal”."
Cláudia Garcia